domingo, 2 de fevereiro de 2020

Sobre ser sutil

      "Don´t Huge Me. I`m Scared" (ou DHMIS) trata-se de uma série criada pro youtube por dois britânicos há seis anos atrás. Considero como uma das obras mais bem feitas que eu tive o prazer de assistir. A história gira em torno de 3 personagens (Red Guy, Yellow Guy e Duck Guy) que estão a serviço de um programa de tv infantil. Os episódios são divididos em uma temática específica, guiando a narrativa e trabalhando sempre dentro de um viés bastante reflexivo. Esses mesmos episódios ainda apresentam muitos easter eggs, mensagens subliminares, informações dispersas e mensagens com conexões com outros episódios. Tornando no fim das contas, a experiência muito profunda, você adentra em um universo e busca as respostas para os labirintos apresentados. O que mais me agrada nessa proposta dos diretores, é justamente o fato da história não ter um significado explícito, fica totalmente livre para os espectadores construírem suas teorias.
      Existe sim uma linha de acontecimentos e conexões primárias, porém, trabalhe sua criatividade, sua noção de pesquisa e sua percepção com os detalhes. A experiência te permite montar sua história a partir de uma. Isso para mim é fascinante, eu sou apaixonado por obras que se propõem a não explicar tanto o seu roteiro, não te entregar de bandeja a proposta. A sutileza é uma ferramenta que, quando usada corretamente, te proporciona uma experiência impactante e em alguns casos, muito inquietante. A crítica que cada episódio carrega também se apresenta muito valiosa, retratando questões problemáticas dentro da mídia, religião, alienação, traumas da infância, entre outros aspectos. Sempre retratados de uma forma muito inovadora. Por isso, gostaria de publicamente fazer propaganda dessa experiência audiovisual! Assistam DHMIS e depois compartilhem suas teorias comigo.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Às moscas

Os finais de semanas mundanos nos trazem tédio, nos proporcionam melancolia. Nos prendem num limbo de medo. Pensamos e buscamos tapar esses buracos, ser produtivos e acima de tudo, fugir da imobilidade...
Eu particularmente me irrito profundamente com essa onda neoliberal como um todo, mas, uma questão me tira dos nervos: a necessidade em estar sempre produzindo e trabalhando o seu tempo. Eu discordo dessa linha ideológica e tento (com maior frequência) dar vivas aos meus momentos de puro descanso mental. Tempos ociosos são necessários para refrescar ideias, dar um tempo para o seu corpo e valorizar a sua saúde mental. Devemos nos desprender desse constante sufocamento em ser produtivo. Esse curto texto é um manifesto contra a produtividade e a favor da valorização do tédio. Grite, com todas as suas forças e repita comigo: Viva o tédio!

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Intuitos

Hoje tive um dia para refletir um pouco sobre a morte, essencialmente ela é vazia. Meus comentários poderiam se encerrar por aqui, mas, compreendo em partes o fascínio social em volta dela. Tirando o viés romântico e poético que me enoja, gostaria de apresentar uma cena fascinante do filme "Whiplash".
Durante a cena em que o protagonista "Andrew Neiman", um jovem músico introspectivo e obcecado em ser bem-sucedido, é confrontado a respeito da sua importância enquanto profissional. A sua reação e resposta me inquietam, Andrew apresenta sua perspectiva de mundo e o que ele quer construir em vida como músico. 
Abrindo um parêntesis, de um ponto de vista cosmológico, a física contemporânea ampliou o nosso campo de visão a respeito da morte e nos deixou completamente irrelevantes. Nossa importância é restrita e limitada, não movemos o universo e muito menos importamos para o universo. Morrer, de um ponto de vista físico e biológico, não significa tanto quanto pensávamos. O impacto maior é social.
Isso significa que não podemos "glamourizar" o ocorrido, naturalizar a violência cotidiana alimentada nos meios de comunicação, nem muito menos, "fetichizar" o acontecimento, é sempre aterrorizante e confuso perder alguém, seja quais forem as razões. A morte aponta questões sociais mal resolvidas e problemas que estão em evidência, que podem nos comprometer enquanto sociedade.
Voltando ao filme, Andrew aponta em um jantar com os seus familiares que o legado é o nosso principal propósito para a vida, que devemos nos preocupar na construção diária do que somos e do que fomos para nossos círculos sociais. A pessoa que vos escreve esse texto, há dois anos atrás quando viu esse filme pela primeira vez, ficou fascinado por esse diálogo e enxergou nisso uma oportunidade de se provar e provar para os outros que é capaz (de quê?). Eu concordo em construir um legado, porém, isso serve único e exclusivamente para mim, para as minhas experiências e para o estilo de vida que eu levo. Me incomoda perceber como a vida, considerando o adoecimento global atual, mesmo sendo conduzida dentro de um discurso que "todos nós importamos", acaba se comportando de maneira contraditória. A partir do momento em que nos é imposto modelos e formas de conduzir algo, não faz o menor o sentido, pois, estamos dentro de uma experiência totalmente subjetiva. É a SUA relação de dentro pra fora, é VOCÊ se conectando a pessoas, sentindo e sobrevivendo. Não deveríamos enxergar perspectivas fechadas de se viver e internalizar isso para as nossas realidades. Sim, sua vida importa. Porém, entenda, não é necessário ter respostas conclusivas, nem ao menos escutar gurus falaciosos da internet, blogueiras em conto de fadas e superações vazias. Nem muito menos o próprio Andrew e sua preocupação doentia e obsessiva com a sua carreira. Viva, tente entender seus traumas, as motivações para os seus conflitos e não se cobre tanto para resolver tantas questões. 

Sobre ser sutil

      "Don´t Huge Me. I`m Scared" (ou DHMIS) trata-se de uma série criada pro youtube por dois britânicos há seis anos atrás. Con...